quinta-feira, 23 de maio de 2013

Jardim De Margaridas

Jardim De Margaridas

Sentada em meio a uma multidão, estava uma garota. Segurava entre as mãos gélidas seus dois lápis de cor favoritos. Um dele era lilás, outro, roxo. Em seus devaneios, estava deitada em meio a um jardim gigantesco, repleto de margaridas. Para ela, margaridas eram flores muito mais bonitas do que rosas. Detestava o fato de que, fora de sua mente, as coisas não eram nem um pouco bonitas naquele dia. As paredes pareciam molhadas e o céu adquirira uma assustadora coloração esbranquiçada, assim como a neblina que não a permitia enxergar as árvores e canteiros lá fora. 
Dias assim parecem muito tristes, de qualquer forma. Principalmente quando se está sozinho com sua própria mente, e ninguém mais. Fazia frio, e o desejo de estar entre as cobertas quentes era só o que predominava. 

Quando o sol desaparecia do céu, a pele desta garota adquiria uma cor estranha. Ela era tão branca que parecia refletir o azul da chuva. Não que a chuva fosse azul, eu só pensei que azul fosse a cor certa para a chuva, como em uma pintura. 

Quando olhou-se no espelho, voltaram a lhe ocorrer certas questões. Questões que a amedrontavam e encolhiam. 
“Por que você não pode ser como a moça que viu nesta manhã? Com cabelos alinhados e pele brilhante?” perguntou-lhe seu subconsciente. “Ela não tinha um nariz muito grande, e suas mãos pareciam estar sempre quentes.” 
Agora a menina, visivelmente diminuída, perambulava os corredores escola afora. Seus cabelos não pareciam nem um pouco alinhados. Suas mãos pareciam pedras, e sua pele... Oh, sua pele. 

Por que o seu subconsciente insistia em perguntar coisas como estas, fazendo comparações? Tão perverso! E por que, às vezes, ela sentia como se não fosse tão forte assim, afinal? Isso passaria com o tempo? 

E a garota, já tão pequena, diminuía gradualmente. Como se tivesse comido o lado errado do cogumelo redondo. Isso pararia um dia? O desejo de ser como os outros? 
Ela não sabia. Mas procurar um universo alternativo parecia uma boa maneira de crescer. As coisas poderiam dar certo algumas vezes, em sua mente tão grande. E enquanto admirava as centenas de margaridas que lhe cercavam, com sua pele brilhante, bochechas coradas e mãos tão macias que passavam facilmente por pétalas da mais delicada rosa, ela sentiu que estava em paz por um pequeno instante. 

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