sábado, 8 de novembro de 2014

Eclipse

Eclipse

Ouvindo: Enlighten my Soul, por Adrian Von Ziegler

É extraoficial: quebramos todas as regras propostas pelo destino. Fomos os personagens principais de nosso próprio conto fantástico.
Segurávamos nossos arcos brilhantes enquanto nossos cabelos castanhos eram ricocheteados pelo vento do outono (que foi quando descobri que não precisava empunhar a espada sozinha). Corríamos por nossas florestas carregando sonhos inéditos para ambos enquanto as folhas laranjadas caíam em espirais. Eu segurava suas mãos como se elas fossem oxigênio em um mundo submerso pelo mar.
As pessoas nos acompanhavam com o olhar. A energia que vibrava era tanta que mesmo os seres inconscientes sobre o que se passava tinham a atenção despertada pela diferença que se complementava. Seus olhos tão desconfiados ao lado de minhas pupilas ingênuas. Seus cabelos tão desalinhados perante às minhas fitas de cetim. Sua quase invisibilidade colada às minhas saias estupidamente rodadas... Opostos nunca pareceram encaixar-se tão bem.

O que me veio à mente na noite passada pareceu mais com uma memória antiga do que com um sonho. Acordei tomada pelo sentimento do primeiro “olá” por trás da tela de um computador. Do primeiro abraço engraçado, assustado e instantâneo num corredor vazio e como seus olhos pareciam fitar os meus com ar de “eu finalmente te encontrei, eu não vou embora”. As noites sem dormir, com o coração pulando de felicidade por tê-lo por perto... Oh, meu amor, por que essas coisas não voltam? Eu sei que já se passaram seis meses... mas por que elas não voltam?
O sonho-memória que veio em seguida já não se passava na metade do outono, e sim no fim do inverno. Sem muitos detalhes. Não via seu rosto, mas posso jurar que senti seu coração acelerado saltando através da camiseta, contra meu próprio peito. Aspirei seu perfume com a maior força que pude. Acordei espantada, tremendo como costumava tremer durante conversas de “adeus” no meio da noite. E eu te quis aqui.

Agora não somos mais personagens. Nossos olhares não sustentam o mesmo sentimento de curiosidade e vontade de aventura quando fixados. Eles faíscam dor. Saudades. Uma vontade que não sabemos explicar ou saciar, tampouco. Nossas florestas incendiaram e, durante a fuga, perdemos os sonhos pelo caminho. As flechas acabaram, perdidas nas carcaças de monstros que tentamos, mas não conseguimos evitar. Procuro suas mãos sem êxito, sem oxigênio, pulmões enterrados nas profundezas...
Nos imagino assim para sempre. Criaturas infelizes e amedrontadas. Desconfiadas de tudo. Seguindo caminhos separados, que nos levarão para tão longe (pois os corredores que nos sustentam não durarão por muito tempo). Encontro o desejo inconsolável de passar o que seria uma vida num universo de contos de fadas. Como os vilões, e jamais como os mocinhos.
Mas os vilões partirão por estradas contrárias, viverão suas vidas comuns e nunca mais mirarão os olhos alheios a até dez metros de distância.
Você consegue ficar longe? Você consegue viver com isto? Você consegue ir embora...? Não o faça.

sábado, 1 de novembro de 2014

Assombros Avulsos

Assombros Avulsos

Ouvindo: E-Bow The Letter,R.E.M (intercalada ao pulsar acelerado do meu coração)

1. Tenho o desejo incessável de uma liberdade desconhecida pela maioria das pessoas. É um sentimento um bocado difícil de ser compreendido. Há falhas, picos e desníveis em sua composição. Sua forma de funcionamento varia por fatores externos – poderia passar a eternidade ao lado das pessoas certas sem jamais cansar-me delas, mas um minuto ao lado de alguém que já me cansou por tantas vezes me faz sentir exausta.
Enquanto tentava pegar minhas mãos para fazer com que eu girasse em meio à pista de dança, queria conseguir dizer que não era culpa dele. Que não era culpa nossa vivermos em universos tão diferentes agora. Que talvez, por motivos alheios à nossa vontade, fosse melhor seguirmos caminhos separados... A música pesada alta demais não permitiu, porém, que as palavras saíssem com clareza. Fui mal interpretada, mal compreendida.
O que mais me assusta nisto tudo, entretanto, foi a paz plena que durou enquanto fiquei sentada, sozinha, observando os instrumentos brilhantes no palco. Sem perguntas, sem dar satisfações a ninguém.

2. As experiências que tive com bebidas alcoólicas nunca foram satisfatórias. A madrugada não me reservou nada diferente. Seis garrafas sobre a mesa. Descobri que é fácil esquecer meu próprio nome – mas nunca o nome alheio. A sonoridade daquele nome era quase sussurrada pela minha consciência, melodicamente. O nome mais bonito que já vi.
O sonho da noite passada me trazia imagens de seus olhos e dedos longos. Foi um tipo diferente de sonho. Eu o sentia aqui. Eu sentia minha própria felicidade com aquelas mãos novamente entrelaçadas às minhas. Nenhuma complexidade, nenhum problema. Só ele, aqui. Acordei afogada nas minhas próprias lágrimas, sussurrando uma eternidade de versos que diziam “volte” repetidamente, até que o sono me alcançasse novamente.

3. Mentiria se dissesse que não gosto de ser tocada. Talvez haja uma espécie de magia que torne o ato agradável, no entanto. A mágica, segurança, paixão ou seja lá o que mova esse sentimento confuso estava ausente naqueles três pares de mãos.
Corri das primeiras, atrasei-me para escapar das segundas e quase fui capturada pelas terceiras.  Minha mente dizia, enquanto esperava para ir de volta para casa, que eu não deveria me sentir culpada por algo que, nem de longe, dependia do meu consentimento. O desespero, porém, sibilava que meus sorrisos deveriam ter sido abertos demais, que minhas roupas convidassem certo alguém a fazer certa coisa e até que os boatos do que fui há quase um ano – ironicamente, para justamente escapar do temor de ‘estar sendo usada sem meu consentimento’ – ainda pairassem no ar. Sentia-me pequena, amedrontada, e meu coração batia como um tambor veloz em meus ouvidos.

4. Algodões me observavam, novamente, sobre a penteadeira. Manchados de púrpura brilhante, como uma galáxia desbotada. Suspirei quando vi a mensagem. Já não me sentia tão sozinha.
Quis voltar aos braços que me causaram tanto conforto no passado e dizer-lhes, como uma explicação para o sentimento que tomou meu peito naquele instante, que entendo como se sente com relação a ela (oras, sinto-me da mesma forma para com o misterioso “ele” – que você desconhece –, afinal). Tenho te torturado, admito, por pura e espontânea vontade. Não acho que nada do que escrevo o atinge significativamente. Nosso amor um pelo outro não é nada comparado ao amor próprio, que sentimos mutuamente.
Quero, na madrugada secreta, pedir perdão por isso. Não quero vê-lo sentindo como se não fizesse parte de lugar algum. Que eu entendo, meu amor, como se sente. E que eu entendo, amor, a situação que ocorre em volta. Há conforto nos braços que não são meus – o conforto, entretanto, não elimina os meus próprios de sua mente por muito tempo. É, como de costume, recíproco. Inexplicável, fulminante, suicida.
Estamos perdidos, eu confesso. Mas estamos perdidos... juntos.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Beija-Flor De Armadura

Beija-Flor De Armadura

Ouvindo: Midnight Dancers, por Adrian Von Ziegler

Beija-flores são criaturas ridiculamente velozes. Asas, olhos, batimentos cardíacos. Uma mente que corre depressa, sempre na direção contrária da qual deveria.

Escolha viver num universo de maravilhas, sem nenhuma dor, ou opte por enxergar a verdade. A segunda alternativa fará seus olhos doerem. Ou seu coração.

A verdade não é algo que se engole facilmente. Principalmente quando você a ignora por muito tempo.
Tenho ignorado a verdade com mais força do que gostaria de admitir. Criando esse véu quase transparente que faz com que tudo adquira um tom apagado de púrpura – digo que mais para os outros, mas no fundo sei que toda a enganação e falsidade deveriam, principalmente, ME enganar.

Não quero enxergar, aceitar, acreditar num mundo onde quem tanto quero existe, e não me quer de volta. Sentir-se perdido, sozinho e aflito são entidades dolorosas, mas não tanto quanto aquela que te faz notar que os sentimentos vindos do outro lado do espelho não correspondem a estes em nada. Há alguém feliz sem você, e outro alguém preenchendo todos os espaços que já foram supostamente ocupados por seu espírito, seus planos e suas particularidades (este alguém parece cumprir o trabalho com maestria).

Todos os adeus, despedidas e sonhos... não resolveram nada. Daria tudo o que nunca tive para, junto com aquele abraço, acabar com toda essa luxúria travestida de amor. “Adeus” é fácil de ser dito mas, obviamente, não acaba com nada. Só em nossas mentes estúpidas. “Vamos dizer adeus agora. Para sempre. Vamos encerrar esses sentimentos por aqui, usando a palavra mágica.” - Para mim, tolice.

Sinto-me presa num passado que, ironicamente, falava de um futuro que não aconteceu. Não acontecerá. Ouço essas conversas, conselhos e histórias forçando minhas próprias pálpebras a manterem-se abertas. Minha mente, como a do beija-flor, está correndo, distante, para o lado contrário. Rio ouvindo piadas, fingindo que aquela gargalhada não foi alta, desesperada ou histérica demais. Sorrio a um estranho no estacionamento, e choro todo o caminho de volta para casa.

O beija-flor, que mantem-se tão forte e plenamente calmo dentro de seus olhos vazios, tentava alimentar a esperança de que, em algum futuro próximo, aquelas asas salvadoras voltariam para ele. De que o sentimento era realmente recíproco. De que foi verdadeiramente compreendido por seu semelhante pássaro um dia. De que havia alguém (mesmo que do outro lado do mundo) sentindo-se igualmente perdido.
Porém, se tudo isso fosse verdade, beija-flor não teria chorado por uma noite inteira, agarrado àquela camiseta com resquícios de um perfume tão familiar (o que restou da última despedida). Beija-flor não teria, durante um passeio desinteressado, avistado aquele casal tão feliz e artificial. Beija-flor não teria se perguntado, depois daquele “eu te amo”, o motivo da despedida. E, finalmente, porque se tudo fosse verdade, beija-flor não estaria sozinho agora.

domingo, 5 de outubro de 2014

A História Conturbada De Como Adquiri Uma Nova Cicatriz

A História Conturbada De Como Adquiri Uma Nova Cicatriz

Há algo aborrecedor sobre chegar em casa pós-festa. O sol atravessa suas cortinas enquanto sua cabeça gira e lateja, e os algodões sujos de maquiagem sobre a penteadeira parecem te fitar incansavelmente.
É engraçado que a felicidade possa vir num copo tão pequeno, e mais engraçada ainda a velocidade com a qual a mesma vai embora. As pessoas gritam alto demais, giram rápido demais, dizem estupidez demais.  Nunca me sinto no lugar certo.
“Me sinto um pouco perdida!” Gritei ao pé do ouvido por trás dos cabelos longos. Eles riram. Rimos juntos. Quanta graça existe embutida ao fato de estarmos sozinhos nesse mundo? 
Flashbacks piscam como um cordão cheio de luzes. “Você me acha pequena?” “Você é uma das maiores pessoas que conheço.” (engraçado, porque suas mãos envolviam meus punhos por completo, como se fossem gravetos) “Você não me conhece.” E escapuli o mais rápido que pude.
Quando saí, agarrada àquela camiseta preta, tudo pareceu piscar e girar. Tropecei nos meus próprios pés. Ganhei uma nova cicatriz.
Chorava na sala de emergência. Não por ele, ou por ela, ou pelos pontos no meu joelho. Só pela meia-calça de estrelas.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Estrela Em Combustão

Estrela em Combustão

Me sentia aquecida e segura envolta por outros braços. Não queria sair dali. Se saísse, estaria sozinha, e quando fico sozinha sei exatamente onde gostaria de estar – o lugar envolveria braços totalmente diferentes.

Dias tempestuosos. Literalmente. Dentro e fora de mim. Hoje a Lua apareceu por, aproximadamente, vinte minutos. Sei porque parei duas vezes, em dois corredores diferentes, para observá-la sorrindo.
Naqueles momentos tão curtos, pude separar emocionalmente cada acorde tirado no baixo, correndo por meus fones de ouvido, e encaixa-lo com um medo diferente.

Questionamentos chegam em horas pouco propícias. Os meus chegaram com a chuva, os trovões e o vento de tempestade. Mentiria se dissesse que chegaram sem ajuda.
Há algo desesperador, mas ridiculamente belo sobre perder algo do qual realmente gostamos: sentido existencial. Por que estamos por aqui, se não há nada antes e nada depois? Nada para acreditar, nada no qual segurar, tanto materialismo ilusório... Se nada do que “temos” é propriamente “nosso”, por que o zelamos tanto? E por que nos importamos tanto, diabos, com coisas que perderemos de qualquer maneira?

Sabe por que algumas pessoas conseguem agarrar-se às exatas com tanta força? Elas encontram nos números a segurança das regras, das impossibilidades e respostas concretas. A prisão e inferno de viver como um ser pensante e autônomo é, justamente, a liberdade eterna. Pois nem mesmo as grades, as cordas ou as algemas aprisionam uma mente independente.
Não há regras a serem seguidas. Escolher “não escolher nada” é estar fazendo uma escolha. Ninguém nos dirá para onde ir ou que caminho seguir, e convenhamos, mesmo se dissesse, não o faríamos.

Nessas noites tempestuosas, quando a luz dos relâmpagos atravessa minhas cortinas, nem o estrondo do trovão mais alto, ou a batida mais alta dos melhores solos de trash metal consegue impedir o medo de chegar. Digo que é o medo do temporal para ignorar o desespero cortante que me atravessa sempre que começo a pensar. Lembrar de que não me sinto no caminho certo, ou acompanhada das pessoas certas, ou no período de tempo em que deveria estar. Encontro-me presa na liberdade de estar livre, e sozinha, com minha própria mente.

Lembro de que sempre pareceu tão fácil estar perdida... Não havia o mínimo desejo de me encaixar num grupo, num padrão específico ou inalterável. Nunca precisei saber para onde estava indo, nem se estava ou não perdida. O desfecho é sempre o mesmo. Há uma lança poderosa bem no fundo de minha mente, entretanto, que diz que isso foi antes de sentir que pertencia a algum lugar.
Tento mil argumentos contraditórios para correr dessa possibilidade. Nenhum deles parece forte o suficiente, dado que é minha própria mente quem rebate de volta. Por poucos dias, talvez alguns poucos meses, tive a plena certeza de qual seria meu destino. Os questionamentos continuariam, mas, de certa forma, sempre haveria alguém que os compartilhasse para me segurar em noites de tormenta. Enxerguei um futuro brilhante e inacreditável que parecia estar esperando, e também o avistei desaparecer como uma miragem no deserto. E encontrei-me perdida. De novo.

Estive conversando com a Lua por todo esse tempo, rebatendo medos e não obtendo resposta alguma. Dou-me conta, finalmente, de que não é a Lua que traz as respostas. A Lua é só, nada mais e nada menos, um planeta que gira eternamente. Dessa vez é outra coisa, chamada Mente, que alimenta o inferno voraz dentro dela mesma, como um ciclo infinito. Como uma estrela em combustão.

sábado, 27 de setembro de 2014

Caleidoscópio

Caleidoscópio

“Some people are meant to fall in love with each other... but not be together.”

Contar quantas vezes ri desta frase seria quase uma tarefa impossível. Nunca vi, em todos os meus dezessete anos de vida, algo que parecesse tão tolo. Nada além de uma morte precoce poderia impedir amantes de estarem juntos para sempre, nem a distância, certo...?
Começo a duvidar.
Não sei dos motivos, porém. Eu os rebati em minha mente toda a tarde, nos momentos em que estive acordada e também nos que dormi. O que obtive foram, talvez, sugestões falhas. As teses baseiam-se em:

a) Há pessoas nesse mundo. Muitas pessoas. Um pedaço do casal que se ama pode, numa manhã de Setembro, acordar apaixonado por uma destas.
(Adendo da ilusão: Apaixonar-se por um terceiro ser não anula os sentimentos que já ocorreram. Não significa que não foi real um dia. Inclusive, o apaixonado pode descobrir que por acaso aquilo não era o que ele esperava que fosse. Ele pode descobrir, tão instantaneamente quando pensava ter-se apaixonado, que a vida imaginada ao lado da terceira pessoa não é nada extraordinária.)
(Adendo ao adendo: Adendo não tão ilusório. Foi o que aconteceu comigo.)

b) As coisas tornam-se monótonas para pessoas que passam tanto tempo juntas. O encanto das primeiras semanas se esvai, dando espaço para silêncios, resquícios de raiva e melancolia.
(Adendo da ilusão: Nenhum momento nesse “tanto tempo” foi passado da maneira como deveria. Talvez o último minuto, mas o fantasma faminto de memórias que não tiveram chance de ocorrer se posta sobre a mesa como uma estátua, me observando do canto do quarto. Memórias do que nunca foi visto torturam ambas as partes da história. Elas nunca acontecerão? Para onde irão? Não será dada a elas uma única chance concreta ou possível?)

c) Ambos amam um ao outro o suficiente para saberem que aquele relacionamento tóxico e cheio de curvas não fará bem a nenhuma das partes. Decidem, assim, fugir do que poderia vir a ser uma bagunça eterna.
(Adendo da ilusão: Mas e se a bagunça fosse o que eu quisesse? As discussões, e as brigas, e as faíscas de desejo que nunca apagam. E se uma vida como uma montanha russa fosse minha escolha? E se, mesmo com aquelas mãos que prometem me levar para a calmaria após ondas violentas, eu preferisse as suas mãos? E se eu quisesse ficar?)

Minha mente sonhadora, fantasiosa demais, sempre criará soluções ilusórias. Ilusões com um fundo de verdade, eu sei. Talvez precise pensar que são ilusões para não chegar ao beco sem saída que dirá que nada é recíproco. Não da mesma forma. Se fosse, por que ele e os planos estariam tão longe agora?
“Some people are meant to fall in love with each other... but not be together.” Talvez. Mas afirmando com toda a certeza do mundo, uma das partes sempre precisará de mais tempo para aceitar a situação. Uma das partes sempre pensará que nada poderá ser melhor. Nunca.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

O Fim da História Sem Fim

O Fim da História Sem Fim

Penso que nem a lua sabe sobre quanto tempo levei para começar a escrever isso. “Isso” que pode ser um pedido de desculpas, ou não. E que pode ser uma bandeira branca, ou não. E que pode ser um conto, ou não. Acho que, no fim, pode ser o que cada um quiser que seja (o problema é que ainda não decidi o que é para mim mesma).
Escrevo isso pensando que seria tão mais fácil fazê-lo se você me odiasse para sempre, mas, bem no fundo, sabendo que se este fosse o caso “você” não seria você e aí, consequentemente, eu não te amaria tanto.

Não acho que posso explicar exatamente o que aconteceu, mas apostarei na teoria de que você é esperto o suficiente para imaginar o que foi (não é isso o que os quase-escritores fazem?). Ao mesmo tempo, meu ego é grande demais para direcionar o dedo da culpa a mim mesma, e é por isso que o apontarei para o silêncio e o vão que surgiram quando não tive coragem o suficiente para questionar sobre o que deduzi.
O que mais me tem matado nos últimos dias (e que eu confesso que achei que passaria depois de certo tempo) foi a ausência de um final falado, ou escrito. Minha teoria sobre o que poderia estar acontecendo ainda se mantem firme dentro de minha mente apressada, no entanto. 
Não peço perdão se estiver errada, pois perdão não é uma coisa sobre a qual gosto de falar, mas talvez isso me aborreça porque, mesmo que ela seja real, não consegue apagar por completo todas as coisas fantásticas que giravam em torno, como um céu cheio de estrelas.

Não sei o que é que há entre a gente. Talvez isso seja só loucura na minha mente, mas já me ocorreu a ideia (possivelmente) maluca de que nos sentimos da mesma forma. E, sim, eu tenho observado outros olhos nos últimos dias, como você também provavelmente tem feito, mas estaria mentindo se dissesse que eles conseguiram afastar os seus próprios de minha mente por muito tempo. Não sei se gostaria que eles voltassem, no entanto – provavelmente isso está mais próximo a um arrependimento que me faz pensar que eles ainda poderiam estar aqui, se acontecesse diferente.
Mas diferente como, se somos duas criaturas tão tolas e medrosas? Pela primeira vez nos vimos gostando e o que fizemos foi... correr!
Também te consola o pensamento de que deveríamos ter nos encontrado, mas esta não foi a hora certa para que isso acontecesse? 

Estaria mentindo se dissesse que consigo não sorrir enquanto lembro do decorrer da história. Dos olhares perdidos. Do primeiro sorriso. Da primeira semana e do mundo de nuvens e casas na floresta (parece tão distante!) e das idas, e voltas, e confissões sobre “eu não consigo sem você”. E os elfos. Livros e músicas. Tolkien e Lewis. Eu poderia conhecer mil pessoas diferentes, e aposto que em nenhuma dessas vezes algo tão belo aconteceria. Nada seria horrível o suficiente para apagar esse agridoce infinito.

Eu aposto que você ainda não está dormindo. E no meio de um pensamento tomado por “ele” me surge você, tão incrivelmente pequeno com seu olhar que me faz chorar e sem acreditar em nada, e talvez sem alguém a quem contar ou paciência para escrever, e nesse momento me sinto uma criatura tão detestável, porque eu queria poder te oferecer meus braços, mas ao mesmo tempo não posso fazê-lo. Não sei, tampouco, se você iria querê-los.  

Alguém me disse que palavras podem fazer alguém em pedaços, mas carregam com elas o poder de juntá-los novamente. É irônico que eu te venha com palavras... se quiser, pode cuspir em mim por isso. O engraçado em tudo é que mesmo se me tocasse o ódio, eu jamais perderia essa afeição fantástica por esses lábios e olhos estreitos – que não são, nem de longe, só estreitos. E eu vou agir como você por alguns segundos e dizer que tudo acaba, mas voltar a ser eu mesma para terminar a frase concluindo que isso não funciona com o amor. Amor não acaba, porque fica preso para sempre num passado inalterável, nas lembranças dos dias quentes e nos planos de um futuro que só existiu, estranhamente, no passado.

Talvez não consiga me aproximar de você porque sinto tanto, e eu sei quanto medo me causa ser afogada por tais emoções. Mesmo assim, sou corajosa o suficiente para criar esperanças e pensar que podemos, eventualmente, num futuro que pode ser bem distante, escrever aquele conto sobre vidas que podem ter acontecido. Era pra ser engraçado...
(Não direi aquelas três palavras de novo. Você já sabe quais são.) 

terça-feira, 29 de julho de 2014

E Foi Por Isso Que Fugi...

E Foi Por Isso Que Fugi...

Queria ser corajosa o suficiente para dizer a ele. Acho que a palavra dita torna-se infinitamente mais dura e real do que a palavra escrita. Mas de todos os medos, e todas as dores, essa tem se tornado a mais densa e escura.

As ultimas semanas dão-se por ápices de alegria e mergulhos de tristeza, e eu não sei se há mais espaço na minha mente para tanto amor, dor, saudades e momentos entrelaçados como num novelo de lã que só cresce, e nunca para de fazê-lo. A dor emocional chegou a um extremo tão grande que passou a ser física. Pela milésima vez no ano.

1º: Eu sabia exatamente o que estava sentindo. Sabia que havia sentimento de volta. A velha história de dar um pouco, pegar um pouco;
2º: “Adeus” pela centésima vez;
3º: A saudade perfurante de todos os momentos vividos e não vividos. O sentimento recíproco que me mantinha sã;
4º: “Olá”, e a magia retorna (não sei, porém, se ela já era tão obscura quanto me parece agora... pareceu-me real, puro, mas não posso ignorar o fato de que você também me parecia ambas as coisas quando surgiu);
5º: Dúvida. Meus olhos de repente de abriram para o mundo em volta. As pessoas em volta. E uma delas em especial. Medo de magoá-lo ou arrepender-me de uma atitude precipitada, porém;
6º: Olhos fechados novamente. O sentimento de indiferença deu espaço a um profundo “não deveria ter feito isso comigo mesma” que apoderou-se de mim de uma maneira tão horrível que ainda predomina. Mas as coisas já estavam estranhas, e não havia nada, nada que pudesse ser feito.

É engraçado e tosco observar que eu pude sentir tanto em tão poucos dias, e como o que pensei que fosse tão grande veio a tornar-se menor do que um grão de areia perdido entre milhões de outros em uma semana. Sempre pensei que tínhamos nosso próprio tempo – e que ele corria mais rápido do que o relógio ou calendário comum conseguiam acompanhar –, mas a destruição de todo esse sentimento ainda me surpreende.
Foi rápido e extremamente patético. Algo no olhar do garoto que nos observava me amedrontou. Agora, depois da avassaladora descoberta (que não foi exatamente uma descoberta, dado que eu já sabia do que poderia estar acontecendo) entendo exatamente o que aqueles olhos gostariam de ter me dito. E eles eram a pena mais pura. A vontade de contar, de me fazer enxergar e o pedido de desculpas por não fazer nada disso. Nunca achei que amaria alguém que (praticamente) desconheço tão forte. Mas o amo por aquele aviso silencioso.
Aquilo perambulou por minha mente toda a noite. Não fazia ideia do motivo que poderia ter desencadeado tamanha tristeza, decepção e raiva tão rapidamente.

Descobri algo que não deveria ter descoberto. Minha mente e alma se dividem sobre sentir-me feliz pelos dois, ou triste por mim mesma. Se eu não o fizer, quem mais fará?
Parte de mim tenta convencer-me de que pessoas são pessoas, e pessoas se apaixonam por pessoas, mesmo quando também estamos nesta equação. Outra parte, porém, quer te mandar ao mais fundo buraco do inferno por ter criado uma situação como uma gaiola, da qual eu não poderia fugir, mesmo se quisesse.
Não te dói fazer com que eu me sinta amada enquanto seus sentimentos flutuam por outra pessoa? Falar comigo como se tudo estivesse bem enquanto há alguém te esperando do outro lado? Adotar-me como segunda opção enquanto todo o seu coração já estava tomado por um sorriso que eu desconhecia?
Porque me dói. E não existe segunda opção para me abraçar e trocar sorrisos enquanto sinto essa metamorfose de conformismo e ódio fulminantes.

Agora tenho a absoluta certeza de que você não deveria ter voltado. E eu não deveria tê-lo aceitado de volta, tampouco. Não o culpo pela paixão, mas o culpo, sim, pela omissão de informação. Por não ter-me contado. Por sentir-se confortável nos braços alheios enquanto me jogava na chuva. E sorrir por outra pessoa antes de dormir e depois de acordar, enquanto eu acreditava nas palavras vazias que foram atiradas como moedas a um mendigo.

E depois, há todo aquele discurso no qual tu acreditas, sobre a maldade e individualidade que cerca os seres humanos por puro instinto, que provou-se real. Não porque você ama outro alguém. Mas por ser tão cruel ao ponto de fechar os olhos e acobertar-se de covardia ao não me contar tal coisa. 
Quando falava do ser humano, olhava-se no espelho.
A criatura da qual tinhas medo, era a que se escondia no seu próprio interior.

Agora que a vejo tenho medo dela, também. E foi por isso que fugi. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

No Centro Do Alvo

No Centro do Alvo

Criei uma teoria baseada no céu. No céu do crepúsculo e, principalmente, no céu noturno.
O que ocorre é que a imensidão de estrelas flamejantes, nuvens avermelhadas e planetas distantes, de certa forma, gira ao meu redor. E isso tem feito todo o sentido possível.

Era tarde; quase meia noite. Eu encarava a imensidão azul coberta por nuvens alaranjadas que ameaçavam chuva, e o vento frio que balançou meus cabelos me fez tremer, embora não fosse exatamente este, eu sabia, o motivo concreto do arrepio. Não soube como interpretar o que a ausência de estrelas representava. Não no momento.
Sentia como se tivesse me jogado do penhasco mais alto e sido capturada por uma águia, que logo em seguida atirou-me contra uma rocha gigantesca com toda a força que pôde. A pedra caiu sobre mim, e o mundo desabou sobre a pedra. E tudo isso novamente, gerando um ciclo infinito. Não sei como consegui chegar à porta. Ao chuveiro. À cama. E ao sono muito menos, pois nem sequer encontrei rastro dele.

Só agora, exatamente vinte e quatro horas após o ocorrido, é que começo tentar dar palpites sobre o que o céu contava a mim sobre mim mesma. A cortina de nuvens que vi, parecendo tão tristes, porém serenas, escondiam toda a explosão de estrelas, planetas, névoas, galáxias que rompiam a calmaria azul. Situação idêntica à expressão que estampava o rosto que não reconheci no espelho.
E apesar de tentar chorar, eu sabia que o que mais queria no momento era gritar. E brigar com o céu. E xingar as estrelas. E te xingar. E me xingar. Mesmo tendo consciência de que isso tudo de nada adiantaria.

A cena que se forma em minha mente é tão tortuosa, triste e complicada que chegaria a ser bela de se assistir, não fosse eu a moça de vestido.
Ela tem as mãos atadas, e anda com o queixo erguido, de olhos fechados, em direção ao alvo. A seda toca o chão sujo. Seus cabelos soltos balançam com violência. Então, ela finalmente para. Bem no centro do círculo de madeira. Ela abre os olhos, e encara sua dor. Sua dor a mira de volta sorrindo, tão sádica e cruel, como uma desconhecida que a conhece tão bem. Isso a machuca, mas apesar de precisar prender a respiração para não cair, ela continua a encará-la. “Estou disposta a enfrenta-la. Pois é o que eu teria de fazer. Neste agora, ou noutro agora.”. E a dor mira seu peito, fecha um dos olhos, puxa o fio flexível, solta a flecha.  E a flecha a perfura, sim, trazendo com ela a lembrança, e a dor, e a dúvida, e a esperança que foi embora, e o cheiro doce que lhe fez tão bem, e o sorriso e os olhos que brilhavam quando ele acontecia, e as cruéis palavras que não foram sequer ditas por você!, e a outra, e as outras, e todas as pedras mais pesadas.
A moça leva as mãos ao peito, sentindo o sangue morno que flui, mas não tenta estanca-lo. Não tenta impedir as lágrimas. Não há mais risos forçados, ou tentativas falhas de manter algo no estômago. O vento para. A dor a encara ao longe. E suas pernas cedem. E seu corpo finalmente pode descansar sobre a relva. O vestido reluzindo sob um céu denso de nuvens brancas, parecendo cortinas. E ela sente a flecha. E evapora lentamente em direção à luz.

Certos fantasmas precisam ser encarados. Certas dores, sentidas. E quando as tentativas de ignorar falham, e tudo parece perder a cor, talvez devamos caminhar até o centro do alvo. O fiz. Porém nenhuma parte evaporou, ou foi em direção à luz. Penso que talvez isso leve tempo. E pergunto-me se o tempo, por si só, será capaz de levar consigo todos os resquícios de alma para que esta possa, enfim, buscar resolver suas pendências com outro ser pensante. Talvez tão maravilhoso quanto – o que ainda parece impossível.

domingo, 22 de junho de 2014

Tempos Difíceis Para Os Sonhadores

Resenha + Devaneios: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet

"Minha querida Amélie, você não tem ossos de vidro! Pode suportar os baques da vida. Se deixar passar esta chance, com o tempo seu coração se tornará tão seco e quebradiço quanto meu esqueleto. Então vá em frente, pelo amor de Deus!"

Minha paixão pelo cinema Francês começa bem aqui. Você, por algum acaso, já notou como produções cinematográficas com roteiros bem pensados podem te fazer mudar de ideia? E será, então, que mudamos realmente de ideia ou só despertamos um sentimento que se mantinha (muito bem) escondido em nossos corações?

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain narra com uma delicadeza maravilhosa a história da jovem parisiense Amélie, que certo dia encontra uma pequena caixa escondida em seu banheiro. Ao abrir o pequeno achado, depara-se com o que foi o possível tesouro da criança que morou ali há pelo menos 40 anos, e decide encontrá-la. Estrategicamente devolve o antigo pertence a seu verdadeiro dono, que chora de emoção. Ali, quase que de uma hora para outra, Amélie passa a ver as pessoas de uma forma totalmente diferente, e passa a ajudá-las com pequenos - porém significativos - gestos. A moça sente falta, entretanto, de alguém que cuide de seu próprio coração.

Aviso não-muito-importante: Não sei se estou sendo justa ao escrever esta resenha, dado que a minha própria visão sobre pessoas tem mudado consideravelmente ao longo dos últimos meses... Aviso, então, que qualquer pensamento profundo, avoado ou insignificante NÃO é mera coincidência. Desde já, perdão por isso. xD

Acredito que todas as pessoas do mundo já passaram por uma situação parecida com esta. Se você não passou, eu sinceramente espero que passe logo!, mas é algo como pensar em algo insistentemente e receber uma prova concreta de que aquilo é real. A prova concreta pode vir de várias formas: através de uma canção, um livro, uma citação ou, neste caso um filme.
Acontece que sempre tive pensamentos um tanto semelhantes com relação às pessoas, mas ultimamente recebi diversas evidências que bateram direto no meu nariz e provaram que tudo aquilo poderia ser real. Estava sendo difícil admitir que meu sub-consciente sempre esteve certo, principalmente depois de algumas situações que envolvem relacionamentos de amor vs. ódio. Minha primeira prova concreta surgiu numa noite fria em que minha risada saía alta demais: ela tinha olhos brilhantes e usava uma blusa listrada. Minha prova me abraçou pela primeira vez, e foi aí que comecei a devanear incansavelmente sobre como TODOS deveriam ser conhecidos unicamente. E sobre paixões que vem e vão, e momentos que ficam na memória e nos fazem sentir saudades.
Apaixonei-me por pelo menos quatro pessoas diferentes depois que tentei seguir com isso, e cá estou eu dizendo-lhes que essa está sendo uma das experiências mais fantásticas pelas quais já passei durante toda a minha curta história de vida.

Como relacionar o parágrafo acima com o que estou tentando repassar-lhes sobre o filme, então...?
A coisa que mais gostei sobre Amélie é que o diretor teve o cuidado de tratar cada personagem como um ser único. Um bom exemplo disso é a narração sobre as coisas que cada um gosta, e também das que não gosta. Isso é uma ótima metáfora sobre: Trate as pessoas como seres únicos, também! Todos merecem atenção especial, e tem coisas para serem amadas sobre (cheguei à conclusão de que, às vezes, a coisa que nos faz amá-los é justamente o fato de serem tão detestáveis).
E a outra coisa que mais gostei é uma lição mais valiosa que diamantes: Nossos ossos "não são de vidro". Os altos e baixos da vida (mesmo que a segunda opção pareça aparecer com mais frequência por um determinado tempo - que por sua vez pode ser longo) servem como uma montanha russa de emoções que nos impedem de nos tornarmos pedras. A emoção de estar apaixonado por determinado período vale todas (e eu disse todas) as lágrimas derramadas pelo mesmo motivo. E isso acontecerá tantas vezes de maneiras diferentes que se torna inútil tentar controlar qualquer sentimento proveniente.
Nunca será igual, e é por isso que todo o término dói como se fosse o primeiro, e todas as vezes em que nos apaixonamos parece A Vez. Mas se lhes serve de consolo, lá fora há um universo gigantesco, repleto de criaturas fascinantes e diversas a seu próprio modo, para explorar.

Permita-se procurar. Deixar-se machucar. Chorar. Se apaixonar. Há um novo horizonte para todos que ousam seguir em frente...

PS: A trilha sonora do filme me faz imaginar pequenas vilas francesas repletas de pessoinhas baixas e interessantes. Passei mais tempo do que deveria observando o céu repleto de estrelas ouvindo-a na universidade.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

A Última Flecha

A Última Flecha

Às vezes penso que devíamos ter permanecido entre olhares cruzados... Entre os risos inocentes que não iam além dos corredores, as expectativas secretas que alimentávamos sobre o outro, o desejo inconstante.
Apesar de brilhantes e arregalados, meus olhos não te contariam sobre a bagunça que se passou e se passa, inquieta, no interior de minha mente maluca. Maluca. Acho que se a maluquice existisse (você sabe que não acredito no “normal” e no “maluco”), seríamos pessoas malucas. Além de imprestáveis, cruéis, sem um pingo de piedade e nem, tampouco, um coração para machucar.

Sinto que corremos em direções opostas pela mesma louca e assustadora razão: nos pegamos sentindo, e o céu sabe que é exatamente do “sentir” que temos medo.
A explicação do adeus - “Desculpe, mas preciso ir embora antes que nosso tempo acabe e não nos reste desejo algum” – foi rápida como uma bala; ou melhor: uma flecha medieval.
Lembro como se tudo houvesse ocorrido há apenas alguns segundos, e não dias. O tremor que percorreu meu corpo e concentrou-se nos lábios numa tentativa falha de sorrir. A única lágrima que fui capaz de derramar. Meu coração disparado como o de um pequeno pássaro que se viu fora do ninho pela primeira vez.

Sinto como se cada gesto nos tivesse transportado a isso. Cada quase-beijo, cada abraço, cada partícula de seu perfume em meu casaco pesado. Cheirava a morte. Término. Adeus.
Quando me deitei tendo a consciência de que aquele dia havia sido o último, meus batimentos cardíacos estavam tão altos que jurei que desmaiaria por pura adrenalina. Nenhuma lágrima caiu. Pensava sobre nossas almas desgraçadas, ligadas inegavelmente, que haviam se encontrado no pior momento possível, e se separavam por pura covardia, pelo próprio medo do futuro. Você, eu: quem é mais detestável?

Sorrir enxergando seus olhos estreitos daquela maneira doce me custou mais força que eu imaginava poder acumular. Nem todas as drogas que correram por minhas veias doeram tanto, física e emocionalmente.
Quando meu desejo era cair em prantos e atirar o que resta de meu corpo aos seus pés, pedindo perdão por algo que nem sei se fiz, simplesmente sentei-me sobre as próprias pernas dobradas e pus-me a observar a lua... Ela aparecia por entre as árvores, como um sorriso que me provocava, e você estava parado debaixo dela. Foi uma cena linda, linda de se escrever.
Pego-me pensando se sua suposta força o permitiu pensar que, em algum momento, merecemos o que se passava. Reflito até mesmo sobre a possibilidade de sua frieza e sarcasmo intencionais terem lhe protegido de toda e qualquer dor de paixão.

Dentre todos os corpos que utilizei para encontrar alguma autoridade sobre o meu próprio, o seu só me fez ter mais certeza de que quem está no comando não sou eu. Nunca fui.
Fico aqui, sem escapatória, presa em uma mente emaranhada em confusões. Meu coração não está quebrado, mas isso é tão pior, como se ele não fosse capaz de sentir nada...

Por puro egoísmo peço então, enquanto corre a primeira e última lágrima que fui capaz de derramar refletindo sobre tudo: Não me guarde na gaveta. Não se esqueça de como minhas mãos pareciam pequenas. Não permita que o futuro sobre o qual te fiz devanear evapore, ou que eu me torne mais um buraco em seu cinto. Não esqueça de minha convicção sobre o copo estar meio cheio, e muito menos do cheiro “doce”, puro e verdadeiramente apaixonado após meses de ceticismo, que - eu tenho certeza - permanecerá te seguindo para sempre, principalmente durante suas visitas ao mundo doentio e ilusório que criamos com a facilidade de quem escreve fantasia. 
Como Tolkien... Como Lewis... 
Você entendeu.

sábado, 22 de março de 2014

Todas As Garotas São Princesas

Resenha: A Princesinha, de Frances Hodgson Burnett

"Se sou uma princesa em trapos e andrajos, posso ser uma princesa por dentro. Seria fácil ser princesa se eu estivesse vestida com tecido de fios de ouro, mas há um triunfo muito maior ser princesa o tempo todo, sem ninguém saber."

Depois que li O Jardim Secreto há algum tempo, Frances tornou-se para mim uma daquelas escritoras que produzem obras nas quais eu mesma gostaria de chegar. Fiquei encantada quando, na estante de livros infanto-juvenis da universidade, encontrei A Princesinha.

A Princesinha citada no título chama-se Sara Crew, e não é, literalmente, uma princesa - ou é, se levarmos em conta o que ela diz o tempo todo, mas isso tornaria as coisas confusas. Apesar de ser órfã de mãe, a menina leva uma vida muito feliz com o pai, na Índia. Dono de grandes riquezas, o homem resolve envia-la então a Londres para fins acadêmicos. Quando algo inesperado acontece e as despesas do luxuoso internado não podem continuar sendo pagas, Sara precisa trabalhar como empregada e passar suas noites em um sótão frio junto com sua amiga (e ajudante de copeiras) Becky.

Considerei Sara uma personagem absolutamente fascinante! Acredito que isso aconteceu porque encontrei tracinhos de maldade em seus pensamentos mais profundos. Quando a inteligencia era usada contra Miss Michin e S tinha consciência disso era a coisa mais engraçada e perversa do mundo, tudo ao mesmo tempo. Sua evolução, assim como ocorre com os outros personagens de Frances em outras obras, também é notável. Depois de passar por situações complicadas suas ideias e pensamentos mudam (para melhor) de uma maneira fantástica - mas o mais importante é que ela nunca deixa de acreditar!

Há uma adaptação cinematográfica para o livro, produzida por Alfonso Cuarón, de 1995. Pude observar por algumas imagens e vídeos que os figurinos e cenários são muito bonitos, porém não posso aprofundar-me nisso porque ainda não o assisti na íntegra (quando o fizer adicionarei uma nota neste parágrafo).

Como ocorreu com The Secret Garden, apaixonei-me completamente pela história e personagens! O Jardim continua sendo meu favorito, mas recomendo A Princesinha com a mesma intensidade. O livro passa lições bastante importantes e que podem ser usadas por adultos, crianças e quem mais se sentir à vontade com isso nos momentos difíceis.

domingo, 9 de março de 2014

Duas Vezes da Mesma Maneira

Resenha: As Crônicas de Nárnia - Livro 4 (Príncipe Caspian), de C. S. Lewis

Clique aqui para ler sobre os livros anteriores.
"Há honra suficientemente grande para que o mendigo mais miserável possa andar de cabeça erguida, e também vergonha suficientemente grande para fazer vergar os ombros do maior imperador da Terra."

Nárnia tem sido meu refúgio nesses períodos de crescer. É estranho se dar conta de que você está crescendo muito rápido, e não há mais volta no mundo real. Nestes casos precisamos sempre correr de volta, antes que o caminho desapareça. Tenho muita sorte por ter construído um mundo com palavras e livros, para onde sempre poderei voltar e me encontrar em meio às páginas, como uma folha prensada, estranha e familiar ao mesmo tempo*.


No quarto livro, intitulado Príncipe Caspian, as coisas não estão nada bem no mundo de Aslam. Os animais falantes sumiram, assim como os centauros e as dríades. Telmarinos governam Nárnia, e fazem tudo para que os tempos felizes do passado sejam desacreditados pelas crianças e adultos. Caspian, herdeiro legítimo do trono, resolve então trazer de volta a era de ouro: aciona a trompa mágica que convoca Pedro, Suzana, Lúcia e Edmundo.

A principal diferença que notei por aqui foi a evolução de certos personagens, principalmente quando falamos de Suzana e Edmundo. Parece que os dois deixaram um pouco de lado as histórias de criança. Edmundo tornou-se nobre, e Suzana uma dama. Pedro permanece igual, mas vale lembrar que sempre pareceu maior que os irmãos caçulas. Com Lúcia ocorre o mesmo: ela ainda é uma menina doce e esperta, mas não minha favorita, pelo menos por enquanto.
Meu foco no livro, porém, deu-se por outra coisa: Aslam havia desaparecido para as outras crianças. Apenas Lucia, que continuava crendo, conseguia vê-lo. Me peguei pensando se coisas assim também acontecem conosco. Será que quando deixamos de acreditar em algo isso desaparece diante de nossos olhos, mesmo quando continua lá? E se isso ocorre, como somos capazes de vê-lo novamente? Isso me rendeu bons pensamentos.
Algo muito triste ocorre por aqui, também. Os primeiros irmãos vão embora de Nárnia, para nunca mais voltarem! Já aprenderam o suficiente, é o que diz o narrador. Despedidas sempre são tristes...

Este foi meu terceiro livro favorito, logo depois dos dois primeiros. É, também, meu filme favorito em toda a série. Não é tão fiel quanto o primeiro, mas no fim, quando The Call começa a tocar, é a cena mais emocionante do mundo. Maravilhoso! Recomendo que todos que iniciaram o livro leiam a sequência, pelo menos até aqui.

*Sangue de Tinta

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A Face do Mal

Resenha: American Horror Story Asylum, de Ryan Murphy

"Os piores monstros são, na verdade, as pessoas."

American Horror Story é uma mini-série norte-americana que retrata diferentes temas a cada temporada. Fui surpresa por ela quando, na segunda temporada, deparei-me com personagens tão fascinantes quanto os de minha série favorita, OZ (acreditem: isso é algo extremamente raro de se encontrar).

Asylum tem como tema principal uma clínica psiquiátrica intitulada Briarcliff - entretanto ainda não descobri se os loucos são os pacientes ou os responsáveis por eles - e seus médicos/administradores/doentes bastante peculiares. O passado é bastante abordado, assim como os tratamentos de choque utilizados com frequência por supostos doutores.
A jornalista Lana Winters acaba presa na clínica como uma suposta paciente (por ser homossexual), e a partir dali fatos estranhos se revelam. O sobrenatural fica por conta de possessão e extraterrestres, mas o que ocorre de fato é que podemos observar que o mal está, na verdade, dentro de cada ser humano, escondido por uma grossa cortina de veludo.

A história em si não teria me encantado se não fosse pelos personagens, meu ponto favorito. Lana foi a minha preferida por ser uma mulher tão forte e corajosa (mesmo que tenha se transformado com o tempo). Achei-a inteligente e sorrateira quanto aos mistérios que desvendou em Briarcliff. Jude também foi forte, corajosa, esperta. Creio que todas as mulheres que tiveram suas aparições me encantaram! (Não sei se Mary Eunice entra neste total, já que ela não era uma 'mulher', propriamente dita.)
Quanto aos pontos negativos, gostaria que a história dos extraterrestres com Kit tivesse sido resolvida diretamente, o que não aconteceu. Isso me deixaria bastante irritada se Lana Banana não tivesse revirado o fim da série e, como sempre, sido a personagem mais esperta entre personagens espertos.

Recomendo esta temporada sem um momento específico para assisti-la. Não é pesada, não é leve. Não é assustadora, e nem calma demais. É algo bem construído (exceto pela parte dos extraterrestres) e com personagens brilhantes, que pensam por si sós e não seguem nenhum padrão estúpido - o inteligente, o corajoso, o bom e o mau. Só gostaria que tivesse mais episódios, assim certos temas poderiam ser melhor analisados.
Caso se sintam curiosos: não recomendo a primeira temporada. Asylum a superou em todos os aspectos.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Calouros...

Breve Nota Sobre Estar na Faculdade

Esta foi minha primeira semana na faculdade de Jornalismo. Posso (e preciso) dizer, que minha vida mudou mais em quatro dias do que em quinze anos. Tudo tem sido uma experiência incrível e surreal. Nunca imaginei encontrar pessoas que gostassem de tantas coisas em comum num só lugar, tantas matérias interessantes, tanta liberdade de expressão (de todas as formas, inclusive sobre as coisas diferentes que você veste), tanto desejo de aprender..! 
Estou trabalhando lá o que tenho de melhor. Minha apresentação como "Isadora" ao mundo. Não precisei correr, chutar bolas ou fazer cálculos para isso, e talvez por esta razão já não me sinto mais tão pequena diante das demais pessoas (porque por mais que tentemos fugir, isso parece inevitável quando tudo o que você faz se transforma em números, que futuramente tornam-se imagens estampadas em seu rosto para aqueles que nunca tentaram conversar sobre dança ou tetro, escrita ou poesia). Sinto-me FELIZ. Realizada. Podendo respirar sonhos e viver deles também.
Agora à parte que vos interessa... O que gostaria de dizer é que agora talvez eu não tenha tanto tempo quanto costumava para ler livros que poderiam ser resenhados por aqui - a não ser que vocês queiram saber sobre a história da mídia, o que eu duvido muito. Estou completamente bem, saudável, ainda lendo e amando escrever, mas provavelmente não darei as caras com tanta frequência. Sei que é provável que ninguém se dê conta sobre minha parada repentina, mas achei que seria bom contar sobre ela. 
Caso alguém tenha acompanhado minha trajetória por aqui o meu "muito obrigada" e até logo (ou não tão logo assim)!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Debate do Século

Resenha: Zumbis vs. Unicórnios, de Holly Black e Justine Larbalestier

"Entre um unicórnio e um zumbi, com qual você preferiria ficar preso em uma mina?"

A discussão sobre quem era melhor começou no blog de Justine, e desde então ela e Holly organizaram um livro que contém doze contos: seis voltados a zumbis, e seis voltados a unicórnios.
O time zumbi, liderado por Justine, tem em sua equipe: Libba Bray, Cassandra Clare, Alaya Down Johnson, Maureen Johnson, Carrie Ryan e Scott Westerfeld.
O time unicórnio, liderado por Holly, tem em sua equipe: Meg Cabot, Kathleen Duey, Margo Lanagan, Garth Nix, Naomi Novik e Diana Peterfreund.

Algo que acontece comigo às vezes é que não vou com a cara de certos autores... Foi o que ocorreu com Justine quando li a introdução. O que pude perceber é que Holly sempre foi educada, analisando os dois pontos de vista, enquanto Justine defendeu o seu e unicamente o seu até o fim (mesmo quando disse coisas extremamente sem noção/estúpidas/desnecessárias). Certo, sei que elas estavam brincando, mas considerei Justine uma mala sem alças!... o que esperar de alguém do time zumbi, não é mesmo?

O que mais gostei no livro é que todos os contos são diferentes. Completamente diferentes! Cada autor criou seu próprio zumbi ou unicórnio, e é maravilhoso como uma base igual pode se transformar tanto em mentes diferentes. Foi fantástico poder ler sobre coisas iguais, porém transformadas e moldadas de acordo com a criatividade de cada autor.

Meus contos favoritos foram: 

Bulganvílias, Carrie Ryan
Mil Flores, Margo Lanagan*
O Cuidado e a Alimentação de Seu Filhote de Unicórnio Assassino, Diana Peterfreund*
Mãos Geladas, Cassandra Clare
A Terceira Virgem, Kathleen Duey*
Não necessariamente nesta ordem.
* = unicórnio

Destes, os que prenderam mais minha atenção e sobre os quais gostaria de me aprofundar são:
Bulganvílias, de Carrie Ryan: A personagem principal é uma menina muito forte e corajosa. O modo como o conto foi organizado (contado cenas passadas e presentes) fez com que ele parecesse muito mais longo do que é de fato, além de nos oferecer uma visão melhor dos personagens e da vida que levavam antes em poucas páginas.
O Cuidado e a Alimentação de Seu Filhote de Unicórnio Assassino, de Diana Peterfreund: Apesar do título extremamente longo (que me passou uma primeira impressão errada do conto - pensei que envolvesse humor) adorei o cenário onde tudo se passou. A escrita de Diana me fez imaginar todos os detalhes daquela tenta de aberrações no circo, o cheiro da palha mofada, o medo de ser descoberta, tudo. E há também, é claro, uma personagem feminina forte e destemida.
A Terceira Virgem, de Kathleen Duey: O unicórnio retratado no conto é muito diferente de todos os outros. Tão melodramático, esperto, voraz, cruel, mas ao mesmo tempo doce. É minha versão de unicórnio favorita.

Preciso avisar-lhes também que, apesar de possuir uma capa colorida e um design bonitinho, há contos muito interessantes e sérios. Obviamente há alguns engraçados, diferentes, que falam palavrões desnecessários aqui e ali, mas eles são a minoria. Isso é diferente do que pensei que seria, por isso decidi contar.

E meu time é..... *tambores*...... Unicórnio!!! Apesar de não ter gostado do retrato dos unicórnios feitos por alguns dos autores (principalmente Meg Cabot - ainda acredito que ela foi sarcástica) outras versões (como a de Kathleen Duey) me fizeram ficar fascinada por eles. Como são lindos e cruéis! Doces e malvados! São as criaturas mais interessantes que já vi.
Defendo meu ponto de vista dizendo que os unicórnios retratados no livro são melhores que os zumbis porque os autores do time de Justine tentaram criar zumbismanos, ou seja, zumbis humanos. É como ler contos que falam apenas de pessoas na maioria das vezes! Nem saberia diferenciar, se me pedissem. Já os unicórnios... Você perdeu, Justine!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Minha Mãe Sempre Dizia...

Resenha: Forrest Gump: O Contador de Histórias, de Robert Remeckis

"...É engraçado o que um jovem consegue se lembrar. Eu não lembro de quanto nasci, do que ganhei em meu primeiro natal, nem de quando fiz meu primeiro piquenique; mas eu lembro da primeira vez que ouvi a voz mais doce do mundo, e eu nunca tinha visto nada mais belo na minha vida. Ela se parecia com um anjo."

Lembro-me de que, quando eu tinha aproximadamente nove anos de idade, havia um professor que sempre fazia com que assistíssemos a este filme. Por algum motivo, nós tínhamos dificuldade de parar quietos, e por um outro motivo (talvez) nós nunca o terminamos. Mas de qualquer forma hoje lembrei dele, e o assisti até o fim, e descobri um novo filme favorito!

Forrest Gump conta sua própria história enquanto espera um ônibus. É uma das histórias mais curiosas que já ouvi porque Forrest tem certos problemas de QI e trata tudo com uma ingenuidade tão grande que chega a ser bonito. Com seus quarenta anos de vida, narra fatos como a guerra do Vietnã e a morte de Kennedy, sem nunca esquecer seu amor de infância, Jenny.
Aposto que se vocês observarem a sinopse assim não se sentirão tão interessados, mas quando forem assistir ao filme poderão ver que é muito mais que isso! Forrest está sempre cercado de muitos outros personagens fantásticos - eu só vi algo parecido quando assisti O Curioso Caso de Benjamin Button (que, por sua vez, é um dos meus filmes favoritos também).

Minha parte favorita da história é a ingenuidade do personagem que a está contando. Ele faz com que tudo pareça tão puro, bonito e fácil, e a visão que ele tem de Jenny (seu amor), me fez lembrar de que se eu tivesse alguém que me visse desta forma - como Gump vê Jenny - eu não precisaria de mais nada no mundo. Acho que todos deviam se sentir amados assim pelo menos uma vez na vida.
Também há outra coisa na qual fiquei vidrada: a soundtrack! Há canções de Elvis, (e ele mesmo tem sua aparição no filme!). As músicas são o máximo.

Recomendo muito que assistam ao filme, mas se quiserem seguir meu conselho, esperem por um momento onde as coisas estiverem calmas. Talvez vocês entendam o motivo quando terminarem. 
Eu adoraria saber o que vocês acharam dele caso assistam, então o box de comentários está logo abaixo...

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Era um Anjo

Resenha: O Menino do Dedo Verde, de Maurice Druon

"De vez em quando surge um cavalheiro que revela um pedaço do desconhecido. Começam por lhe rir na cara. Algumas vezes levam-no para a cadeia, porque ele perturba toda a ordem. Mais tarde, quando descobrem que tinha razão e já está morto, erguem-lhe uma estátua. É o que eles chamam de gênio."

A primeira vez que vi este livro ele estava nas mãos de uma pessoa que admiro muito. Ela é uma das pessoas mais calmas que conheço neste mundo, e dava palestras mais calmas ainda na escola onde cursei meu ensino fundamental. Acho que livros favoritos dizem muito sobre as pessoas, e pelo visto ela estava gostando de ler este, por isso o procurei agora.

'O Menino do Dedo Verde' na verdade se chama Tistu e tem oito anos de idade. É enviado à escola por sua mãe, que até então o ensinava em casa, por conta própria. Mas acontece algo inesperado: o menino dorme assim que ouve a voz do professor. Por esta razão seu pai decide fazê-lo aprender os assuntos que vão lhe servir na a vida. Durante seu primeiro aprendizado com o jardineiro Sr. Bigode, Tistu descobre que tem o polegar verde! As flores crescem quase imediatamente quando ele toca o polegar em qualquer superfície, e ele aprende a usar esta espécie de poder para ajudar quem precisa de felicidade.
O que ocorre com esta estória é que, como em O Pequeno Príncipe, ela nos narra muito encontros de personagens. Cada personagem tem algo muito importante a dizer, e também sua própria maneira de fazê-lo. Sendo assim, não é só Tistu que aprende: nós leitores aprendemos com ele.

Meus personagens favoritos são o Sr. Bigode e também o pônei Ginástico. Sr. Bigode mostrou sua personalidade logo no início, mas Ginástico foi misterioso e demorou um pouco mais, acho que foi por isso que gostei tanto dele (também foi por causa do nome engraçado).
Outro dos pontos que se destacaram para mim foram os pensamentos e frases muito bonitos. Eles dizem coisas simples e nos mostram quanto perdemos tentando pensar em algo muito complicado, quando na verdade a solução estava diante de nossos olhos.

Acho que crianças e adultos terão uma visão diferente do livro se resolverem lê-lo, mas acredito que se torne interessante para ambos. Além do mais, a narrativa é absolutamente fácil, então leiam assim que encontrarem!

sábado, 4 de janeiro de 2014

Sei Que é Maluquice

O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger

"Não devíamos contar nada a ninguém. Quando contamos, começamos a sentir falta de todo mundo."

Um amigo muito querido me contou em um dia difícil que este foi seu livro favorito na adolescência. Já o havia visto outras vezes, inclusive no livro que marcou a minha adolescência. Contei a ele sobre isso, e o amigo emprestou-me seu próprio exemplar, com suas próprias anotações e suas próprias marcas. Achei isso algo fantástico porque imaginei que quando eu estiver mais velha poderei emprestar meus livros. Contar a outras pessoas que eles eram meus favoritos e fazê-las se sentirem melhor. Livros levam muitas histórias além daquelas que neles foram impressas.

Mas, ignorando as outras histórias momentaneamente, a que foi impressa neste aqui conta sobre um jovem chamado Holden, que vem de Nova Iorque. Holden não tem um bom histórico escolar. Foi expulso mais de uma vez, e agora, novamente. Por isso o rapaz decide voltar para casa mais cedo, e passa um final de semana vagando pelas ruas, procurando pessoas que para ele foram importantes, pensando melhor sobre si mesmo e o comportamento dos que o cercam.

Holden é alguém muito interessante. De verdade. Nunca vi um personagem como Holden antes, e já li muitos outros livros por aí. Outro personagem que me cativou foi o Professor Antolini. Às vezes encontramos estes professores que ouvem e entendem melhor do que qualquer pai ou amigo.
Uma das coisas que mais gosto de estudar é o comportamento humano, e, em suma, é sobre isso que o livro fala. O personagem principal simplesmente se cansa de tudo. Acha que o fim chegou e o sentimento de confusão é algo sempre presente. Isso não te parece familiar?

Preciso confessar, porém, que além de Holden não houve nada atrativo. Nada me fez sentir curiosa ou com vontade de ler tudo de uma vez. Então me dei conta de que meu livro favorito também não conta nada assim. Só sobre uma mente agitada. O que acontece ali é que vemos a nós mesmos alguns anos, ou meses, ou semanas antes. Nós fazemos a história tornar-se especial.

Ps:. Como podem ver, não tenho muito a dizer por aqui. O que tenho em mente é difícil explicar, como acontece na maioria das vezes, mas bem lá no fundo O Apanhador no Campo de Centeio me fez sentir melhor. Me fez ver que não sou (ou era) a única confusa neste mundo. Que todos temos aqueles momentos onde caímos sem parar, e parecemos nunca tocar no chão. É... união. Foi disso que mais gostei.