terça-feira, 30 de setembro de 2014

Estrela Em Combustão

Estrela em Combustão

Me sentia aquecida e segura envolta por outros braços. Não queria sair dali. Se saísse, estaria sozinha, e quando fico sozinha sei exatamente onde gostaria de estar – o lugar envolveria braços totalmente diferentes.

Dias tempestuosos. Literalmente. Dentro e fora de mim. Hoje a Lua apareceu por, aproximadamente, vinte minutos. Sei porque parei duas vezes, em dois corredores diferentes, para observá-la sorrindo.
Naqueles momentos tão curtos, pude separar emocionalmente cada acorde tirado no baixo, correndo por meus fones de ouvido, e encaixa-lo com um medo diferente.

Questionamentos chegam em horas pouco propícias. Os meus chegaram com a chuva, os trovões e o vento de tempestade. Mentiria se dissesse que chegaram sem ajuda.
Há algo desesperador, mas ridiculamente belo sobre perder algo do qual realmente gostamos: sentido existencial. Por que estamos por aqui, se não há nada antes e nada depois? Nada para acreditar, nada no qual segurar, tanto materialismo ilusório... Se nada do que “temos” é propriamente “nosso”, por que o zelamos tanto? E por que nos importamos tanto, diabos, com coisas que perderemos de qualquer maneira?

Sabe por que algumas pessoas conseguem agarrar-se às exatas com tanta força? Elas encontram nos números a segurança das regras, das impossibilidades e respostas concretas. A prisão e inferno de viver como um ser pensante e autônomo é, justamente, a liberdade eterna. Pois nem mesmo as grades, as cordas ou as algemas aprisionam uma mente independente.
Não há regras a serem seguidas. Escolher “não escolher nada” é estar fazendo uma escolha. Ninguém nos dirá para onde ir ou que caminho seguir, e convenhamos, mesmo se dissesse, não o faríamos.

Nessas noites tempestuosas, quando a luz dos relâmpagos atravessa minhas cortinas, nem o estrondo do trovão mais alto, ou a batida mais alta dos melhores solos de trash metal consegue impedir o medo de chegar. Digo que é o medo do temporal para ignorar o desespero cortante que me atravessa sempre que começo a pensar. Lembrar de que não me sinto no caminho certo, ou acompanhada das pessoas certas, ou no período de tempo em que deveria estar. Encontro-me presa na liberdade de estar livre, e sozinha, com minha própria mente.

Lembro de que sempre pareceu tão fácil estar perdida... Não havia o mínimo desejo de me encaixar num grupo, num padrão específico ou inalterável. Nunca precisei saber para onde estava indo, nem se estava ou não perdida. O desfecho é sempre o mesmo. Há uma lança poderosa bem no fundo de minha mente, entretanto, que diz que isso foi antes de sentir que pertencia a algum lugar.
Tento mil argumentos contraditórios para correr dessa possibilidade. Nenhum deles parece forte o suficiente, dado que é minha própria mente quem rebate de volta. Por poucos dias, talvez alguns poucos meses, tive a plena certeza de qual seria meu destino. Os questionamentos continuariam, mas, de certa forma, sempre haveria alguém que os compartilhasse para me segurar em noites de tormenta. Enxerguei um futuro brilhante e inacreditável que parecia estar esperando, e também o avistei desaparecer como uma miragem no deserto. E encontrei-me perdida. De novo.

Estive conversando com a Lua por todo esse tempo, rebatendo medos e não obtendo resposta alguma. Dou-me conta, finalmente, de que não é a Lua que traz as respostas. A Lua é só, nada mais e nada menos, um planeta que gira eternamente. Dessa vez é outra coisa, chamada Mente, que alimenta o inferno voraz dentro dela mesma, como um ciclo infinito. Como uma estrela em combustão.

sábado, 27 de setembro de 2014

Caleidoscópio

Caleidoscópio

“Some people are meant to fall in love with each other... but not be together.”

Contar quantas vezes ri desta frase seria quase uma tarefa impossível. Nunca vi, em todos os meus dezessete anos de vida, algo que parecesse tão tolo. Nada além de uma morte precoce poderia impedir amantes de estarem juntos para sempre, nem a distância, certo...?
Começo a duvidar.
Não sei dos motivos, porém. Eu os rebati em minha mente toda a tarde, nos momentos em que estive acordada e também nos que dormi. O que obtive foram, talvez, sugestões falhas. As teses baseiam-se em:

a) Há pessoas nesse mundo. Muitas pessoas. Um pedaço do casal que se ama pode, numa manhã de Setembro, acordar apaixonado por uma destas.
(Adendo da ilusão: Apaixonar-se por um terceiro ser não anula os sentimentos que já ocorreram. Não significa que não foi real um dia. Inclusive, o apaixonado pode descobrir que por acaso aquilo não era o que ele esperava que fosse. Ele pode descobrir, tão instantaneamente quando pensava ter-se apaixonado, que a vida imaginada ao lado da terceira pessoa não é nada extraordinária.)
(Adendo ao adendo: Adendo não tão ilusório. Foi o que aconteceu comigo.)

b) As coisas tornam-se monótonas para pessoas que passam tanto tempo juntas. O encanto das primeiras semanas se esvai, dando espaço para silêncios, resquícios de raiva e melancolia.
(Adendo da ilusão: Nenhum momento nesse “tanto tempo” foi passado da maneira como deveria. Talvez o último minuto, mas o fantasma faminto de memórias que não tiveram chance de ocorrer se posta sobre a mesa como uma estátua, me observando do canto do quarto. Memórias do que nunca foi visto torturam ambas as partes da história. Elas nunca acontecerão? Para onde irão? Não será dada a elas uma única chance concreta ou possível?)

c) Ambos amam um ao outro o suficiente para saberem que aquele relacionamento tóxico e cheio de curvas não fará bem a nenhuma das partes. Decidem, assim, fugir do que poderia vir a ser uma bagunça eterna.
(Adendo da ilusão: Mas e se a bagunça fosse o que eu quisesse? As discussões, e as brigas, e as faíscas de desejo que nunca apagam. E se uma vida como uma montanha russa fosse minha escolha? E se, mesmo com aquelas mãos que prometem me levar para a calmaria após ondas violentas, eu preferisse as suas mãos? E se eu quisesse ficar?)

Minha mente sonhadora, fantasiosa demais, sempre criará soluções ilusórias. Ilusões com um fundo de verdade, eu sei. Talvez precise pensar que são ilusões para não chegar ao beco sem saída que dirá que nada é recíproco. Não da mesma forma. Se fosse, por que ele e os planos estariam tão longe agora?
“Some people are meant to fall in love with each other... but not be together.” Talvez. Mas afirmando com toda a certeza do mundo, uma das partes sempre precisará de mais tempo para aceitar a situação. Uma das partes sempre pensará que nada poderá ser melhor. Nunca.