quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Primos Gêmeos

Resenha: A Solidão dos Números Primos, de Paolo Giordano

"Porque o amor de alguém que não se ama deposita-se na superfície e logo evapora."

Nunca havia lido algo de um escritor italiano. Não que eu julgue escritores por sua nacionalidade, mas fiquei curiosa sobre o livro, inicialmente, por causa disto. Quando notei que os personagens se assemelhavam com dois alguéns da vida real e li as primeiras linhas sobre seu quase desastrado - mas muito bonito - relacionamento, pensei sobre um possível aliado para As Vantagens de ser Invisível. Agora que terminei-o não digo que tornou-se meu segundo favorito, mas quase o faço.

O Silêncio dos Números Primos se passa entre os anos de 1993 e 2003, e gira em torno de dois personagens principais: Mattia, que abandonou a irmã gêmea altista em um parque quando eram crianças e perdeu-a para sempre, tornando-se um garoto com problemas como automutilação, por exemplo, e Alice, que sofre com a baixa auto-estima e algo que identifiquei como bulimia (não fica tão claro).
A evolução dos personagens com o decorrer dos anos é bastante marcante, e faz com que pessoas de diferentes idades se identifiquem com os mesmos; eu, por exemplo, identifiquei-me melhor com a estória nos primeiros anos, quando Alice e Mattia são adolescentes e buscam seu lugar no mundo - mas isso não me impediu de aproveitar o restante.

Sinto muita compaixão para com Mattia e seus pais. Não tanto com Alice, mas com Mattia sim. O fato é que todos os personagens são maravilhosamente formados. Todos. Até mesmo aqueles menos importantes, que aparecem como vislumbres pelas páginas do livro. Isso conduz o leitor a um universo só seu, onde todos os acontecimentos narrados tornam-se reais e provocam uma emoção tão profunda como se estivéssemos lá.
Quanto à escrita, achei tudo muito agradável, tudo muito rápido na hora de seguir em frente. São poucos os livros onde não me sinto desconfortável quando o assunto tocado envolve sexualidade, principalmente de um modo tão explícito, mas aqui tudo foi tratado por Paolo com muita delicadeza, não de uma forma suja ou espantosa (isso se concentra apenas no início do livro, quando ambos os personagens principais são adolescentes e, por sua vez, estão descobrindo coisas sobre si mesmos). 

Pelo que pude observar, há uma adaptação para o livro no cinema. Não estava interessada, mas quando ouvi Bette Davis Eyes no trailer senti como se precisasse assisti-lo. Prometo acrescentar uma nota por aqui quando acontecer. (Li alguns comentários sobre, e eles em sua maioria dizem que é algo realmente bonito, mas, como sempre, não chega aos pés do livro.)

Recomento a obra - e muito - se você tiver mais de quatorze anos de idade e estiver disposto a um assunto pesado de uma forma diferente, delicada e sensível. 

SPOILER
Preciso confessar que fiquei um tanto quando decepcionada, para não dizer revoltada, com o final que tudo teve. Houve aquela luz no fim do túnel, mas ela era o farol do trem, que atropelou e esmagou tudo de vez. Por que levantar as minhas esperanças desta forma para pisotear tudo, Paolo Giordano??? Estou perplexa e preciso debater isso com alguém.

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