quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Matéria

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Hoje há um lindo céu. Todas as estrelas, ontem ocultas pela névoa, brilham tanto que ofuscam os olhos. O silêncio é substituído por sons de folhas e insetos dançantes, e o caderno aberto sobre a escrivaninha ainda mantém em segredo minhas confissões de gratidão.

Existe agora, após uma quantia exata de dias, horas, segundos, uma espécie de conforto na quase-tristeza que me cerca. Há quase-exatas 24 horas, quando tudo ocorreu novamente como um dejavú ou um pesadelo que sempre retorna para tomar-lhe o fôlego, meu coração disparou. Por cinco minutos. Os cinco minutos da surpresa pós esquecimento ou ceticismo sobre algo que desde o início, eu sabia, aconteceria de novo. O diferente, desta vez, foi que eu soube exatamente para onde correr.
Abri a janela. Aspirei profundamente as partículas geladas. Lavei a alma. Sem lágrimas.
Eu, sozinha. Eu, inteira. Eu, independente. Forte. Corajosa. Nascida em batalha. Eu. De verdade. O que fui antes, numa versão aperfeiçoada.

Quando observo as constelações iluminadas com os olhos transbordando em lágrimas de vitória, confusão, tristeza, conforto e um turbilhão de sentimentos tão infinitos como o universo, sorrio tranquilamente. Pensando que a poeira das estrelas que brilham sem motivo, sem consciência, sem questionamentos, é a mesma que molda meus ossos proeminentes. Que o ar que sopra as asas das centenas de insetos invisíveis é o mesmo que preenche meus pulmões. Que o sangue pulsando por minhas veias continua sendo bombeado graças ao cuidado de centenas, milhares, milhões de seres humanos.
Cruzando os braços arrepiados, ainda sorrindo, me dou conta de que nem eu, nem o universo sabemos das razões ou consequências de nossa própria existência. Conclusão que não leva embora o fato de sermos infinitos. Intrigantes e belos e tristes e maravilhosos. Sem saber de absolutamente nada.

Dou-me conta de que todos, em toda a parte, felizes ou não, conectam-se entre si. E incríveis, exatamente como são, conectam-se, juntos, ao universo. 
Somos, no fim, frutos da mesma matéria.

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