segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Beija-Flor De Armadura

Beija-Flor De Armadura

Ouvindo: Midnight Dancers, por Adrian Von Ziegler

Beija-flores são criaturas ridiculamente velozes. Asas, olhos, batimentos cardíacos. Uma mente que corre depressa, sempre na direção contrária da qual deveria.

Escolha viver num universo de maravilhas, sem nenhuma dor, ou opte por enxergar a verdade. A segunda alternativa fará seus olhos doerem. Ou seu coração.

A verdade não é algo que se engole facilmente. Principalmente quando você a ignora por muito tempo.
Tenho ignorado a verdade com mais força do que gostaria de admitir. Criando esse véu quase transparente que faz com que tudo adquira um tom apagado de púrpura – digo que mais para os outros, mas no fundo sei que toda a enganação e falsidade deveriam, principalmente, ME enganar.

Não quero enxergar, aceitar, acreditar num mundo onde quem tanto quero existe, e não me quer de volta. Sentir-se perdido, sozinho e aflito são entidades dolorosas, mas não tanto quanto aquela que te faz notar que os sentimentos vindos do outro lado do espelho não correspondem a estes em nada. Há alguém feliz sem você, e outro alguém preenchendo todos os espaços que já foram supostamente ocupados por seu espírito, seus planos e suas particularidades (este alguém parece cumprir o trabalho com maestria).

Todos os adeus, despedidas e sonhos... não resolveram nada. Daria tudo o que nunca tive para, junto com aquele abraço, acabar com toda essa luxúria travestida de amor. “Adeus” é fácil de ser dito mas, obviamente, não acaba com nada. Só em nossas mentes estúpidas. “Vamos dizer adeus agora. Para sempre. Vamos encerrar esses sentimentos por aqui, usando a palavra mágica.” - Para mim, tolice.

Sinto-me presa num passado que, ironicamente, falava de um futuro que não aconteceu. Não acontecerá. Ouço essas conversas, conselhos e histórias forçando minhas próprias pálpebras a manterem-se abertas. Minha mente, como a do beija-flor, está correndo, distante, para o lado contrário. Rio ouvindo piadas, fingindo que aquela gargalhada não foi alta, desesperada ou histérica demais. Sorrio a um estranho no estacionamento, e choro todo o caminho de volta para casa.

O beija-flor, que mantem-se tão forte e plenamente calmo dentro de seus olhos vazios, tentava alimentar a esperança de que, em algum futuro próximo, aquelas asas salvadoras voltariam para ele. De que o sentimento era realmente recíproco. De que foi verdadeiramente compreendido por seu semelhante pássaro um dia. De que havia alguém (mesmo que do outro lado do mundo) sentindo-se igualmente perdido.
Porém, se tudo isso fosse verdade, beija-flor não teria chorado por uma noite inteira, agarrado àquela camiseta com resquícios de um perfume tão familiar (o que restou da última despedida). Beija-flor não teria, durante um passeio desinteressado, avistado aquele casal tão feliz e artificial. Beija-flor não teria se perguntado, depois daquele “eu te amo”, o motivo da despedida. E, finalmente, porque se tudo fosse verdade, beija-flor não estaria sozinho agora.

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