Elétrico
Colors, Halsey
Dormiu na minha torre como quem aproveita um castelo pela
primeira vez. Os pés sobre o baú, as mãos sob o travesseiro e os olhos na
estante. Sorria de longe, escondida, para a melodia da caixa de música que você
fazia funcionar. E prendia meus cabelos séria, com você no canto dos olhos, esperando na porta.
E nessa de implorar silenciosamente por calma durante
tempo demais, fazendo jus às minhas presas, seu espírito elétrico corria sem
parar. Quando me tocava, a corrente me fazia pular. Você vermelho vivo,
gritante. Eu azul denso, triste. E nós lilases.
Você abrindo trilha e empurrando galhos. Eu ao fundo, dizendo
espere. Devagar. Com cuidado. Dizendo vamos sair da floresta, que aqui
dentro é escuro. E dizendo ey... não morda forte assim.
Gargalhava enquanto você contava sobre minha própria grandeza.
Mas me calava por dentro, ouvindo sua filosofia sobre as possibilidades
infinitas do ser. Quando parava de gargalhar, chorava. E você nunca dizia quase
nada. Só que não era pra eu falar coisas assim, que elas te assustavam. Eu
sabia mais sobre medo do que você sabia sobre coragem.
Sentia muito pelas vezes em que te chamava e me afastava
quando te via chegando. Te esfaqueei com o medo que sentia de não conseguir
escapar de você. Da sua possibilidade de viver
sem mim e continuar inteiro. Porque você sabe que sou egoísta sobre corações. E
eu sei que você é capaz de desaparecer de repente.
Todos falavam sobre você como se tudo sobre seu ser fosse
possível. Como se nada estranho fosse inesperado, nenhuma das inconstâncias. Com
suas expressões de “Ah, sua bobinha, você não esperava isso dele?...” achavam
engraçadinha a raiva que eu sentia quando alguém perguntava sobre.
E depois de algumas amoras, uma blusa no meu armário, a
última estadia na minha cama e um hiato, te vi de longe. E com o tiquinho de
raiva que move meu amor admiti que continuava te achando fantástico. Com seus
colares e sua pulseira e seus óculos escuros. Mesmo que você segurasse outras
mãos. Mesmo que eu segurasse outras mãos e que minha mente corresse em torno de
duas outras pessoas diferentes.
Dessa vez, quem esquivava era você. E eu fui embora pra
outra casa. Com você pendurado por um alfinete na minha jardineira, e eu pendurada
por um cordão no seu pescoço.
Você é meu pra sempre. Eu quebrei seu coração.
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