Caleidoscópio
“Some people are meant to fall
in love with each other... but not be together.”
Contar quantas vezes ri desta
frase seria quase uma tarefa impossível. Nunca vi, em todos os meus dezessete
anos de vida, algo que parecesse tão tolo. Nada além de uma morte precoce
poderia impedir amantes de estarem juntos para sempre, nem a distância, certo...?
Começo a duvidar.
Não sei dos motivos, porém. Eu
os rebati em minha mente toda a tarde, nos momentos em que estive acordada e
também nos que dormi. O que obtive foram, talvez, sugestões falhas. As teses
baseiam-se em:
a) Há pessoas nesse mundo.
Muitas pessoas. Um pedaço do casal que se ama pode, numa manhã de Setembro,
acordar apaixonado por uma destas.
(Adendo da ilusão:
Apaixonar-se por um terceiro ser não anula os sentimentos que já ocorreram. Não
significa que não foi real um dia. Inclusive, o apaixonado pode descobrir que
por acaso aquilo não era o que ele esperava que fosse. Ele pode descobrir, tão
instantaneamente quando pensava ter-se apaixonado, que a vida imaginada ao lado
da terceira pessoa não é nada extraordinária.)
(Adendo ao adendo: Adendo não
tão ilusório. Foi o que aconteceu comigo.)
b) As coisas tornam-se
monótonas para pessoas que passam tanto tempo juntas. O encanto das primeiras
semanas se esvai, dando espaço para silêncios, resquícios de raiva e
melancolia.
(Adendo da ilusão: Nenhum
momento nesse “tanto tempo” foi passado da maneira como deveria. Talvez o
último minuto, mas o fantasma faminto de memórias que não tiveram chance de
ocorrer se posta sobre a mesa como uma estátua, me observando do canto do
quarto. Memórias do que nunca foi visto torturam ambas as partes da história. Elas
nunca acontecerão? Para onde irão? Não será dada a elas uma única chance
concreta ou possível?)
c) Ambos amam um ao outro o
suficiente para saberem que aquele relacionamento tóxico e cheio de curvas não
fará bem a nenhuma das partes. Decidem, assim, fugir do que poderia vir a ser
uma bagunça eterna.
(Adendo da ilusão: Mas e se a
bagunça fosse o que eu quisesse? As discussões, e as brigas, e as faíscas de
desejo que nunca apagam. E se uma vida como uma montanha russa fosse minha
escolha? E se, mesmo com aquelas mãos que prometem me levar para a calmaria
após ondas violentas, eu preferisse as suas mãos? E se eu quisesse ficar?)
Minha mente sonhadora,
fantasiosa demais, sempre criará soluções ilusórias. Ilusões com um fundo de
verdade, eu sei. Talvez precise pensar que são ilusões para não chegar ao beco
sem saída que dirá que nada é recíproco. Não da mesma forma. Se fosse, por que
ele e os planos estariam tão longe agora?
“Some people are meant to fall
in love with each other... but not be together.” Talvez. Mas afirmando com toda
a certeza do mundo, uma das partes sempre precisará de mais tempo para aceitar
a situação. Uma das partes sempre pensará que nada poderá ser melhor. Nunca.
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